A Hungria não costuma ser o destino dos sonhos dos jovens que buscam por um intercâmbio. Eu sei muito bem disso, porque, na verdade, nunca foi o meu também. Eu acredito que isso acontece porque, pelo menos no Brasil, conhecemos pouquíssimo sobre o país, sua cultura, suas cidades, pontos turísticos, comidas típicas etc.
A Mi me convidou para falar um pouquinho de como está sendo a minha experiência vivendo em Budapeste, a capital da Hungria. Já adianto: estou vivendo os melhores meses da minha vida e realizando sonhos que eu achava que estavam distantes demais para se tornarem realidade.
Me chamo Eduarda Gressler, tenho 20 anos e venho de uma cidade de aproximadamente 30 mil habitantes no Rio Grande do Sul, chamada Dois Irmãos. Sempre estudei em escolas públicas e foi em uma dessas que me formei técnica em química. No meu ensino médio conheci a pesquisa científica, que me abriu portas que eu tanto esperava: fui parar do outro lado do mundo, na Malásia, para participar da Conferência Internacional de Jovens Cientistas. Na universidade, fui bolsista do PROUNI e estudei três semestres de Engenharia Química na Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Durante todo esse tempo, sempre sonhei em fazer um intercâmbio, mas nunca tive as condições financeiras para pagar por um. Foi aí que o Stipendium Hungaricum apareceu.
O que é a Bolsa?
O programa de Bolsas Stipendium Hungaricum foi lançado em 2013 na Hungria e tem como objetivo apoiar estudantes estrangeiros que queiram realizar seus estudos em instituições de ensino superior húngaras. O pacote da bolsa oferece uma oportunidade única de desenvolvimento acadêmico e profissional, ampliando a rede de contatos do bolsista na Europa e claro, uma experiência imersiva na cultura húngara.
São 29 instituições de ensino superior que oferecem programas de bolsa, ou seja, são mais de 600 cursos acadêmicos, e o melhor: conduzidos principalmente em inglês! Essa bolsa é ofertada para diversos países e não é necessário saber húngaro para se inscrever.
Você pode de forma completamente gratuita, fazer um Bacharelado, Mestrado ou Doutorado. E até, programas não acadêmicos como cursos profissionalizantes e de especialização. São disponibilizadas cerca de 250 bolsas para Brasileiros por ano!
Além do curso inteiramente gratuito, o bolsista recebe uma bolsa mensal de 83.700 florins húngaros, seguro de saúde e a possibilidade de trabalhar meio-período (20h semanais).
Pré-Requisitos e Documentos Necessários:
– Ser maior de 18 anos (não existe idade máxima);
– Passaporte Válido
– Histórico Escolar Traduzido
– Certificado de Conclusão do Nível Anterior de Ensino Traduzido
– Certificação de proficiência no Inglês (IELTS 5.5 mais ou menos, depende da Universidade)
– Carta motivacional (onde você fala sobre suas motivações para estudar na Hungria)
– Exames médicos que comprovem que você não possui uma doença contagiosa (e, se caso possua, que você faz tratamento).
Processo Seletivo:
As inscrições abrem todos os anos em Novembro e vão até Janeiro do ano seguinte. Você precisa criar um perfil no site oficial e submeter todos os documentos até o final de Fevereiro, aí então eles fazem a primeira revisão dos documentos pra ver se você é elegível. Entre abril e maio acontece o processo admissional da universidade (nessa parte pode ser solicitado que você faça provas, entrevistas ou outro tipo de processo, dependendo da universidade). No início de Julho saem os resultados finais e no mês de Setembro do mesmo ano você começa o seu curso na Hungria!
Eu, Duda, estudo bacharelado em Engenharia Química na Budapest University of Technology and Economics, na capital da Hungria, Budapeste. Estou iniciando o meu segundo semestre no curso e quero dividir com vocês um pouco da minha experiência até agora:
Sobre o país e a capital:
Me pergunto “como eu nunca tinha ouvido falar na Hungria antes?”
Estou morando aqui desde agosto de 2020 e todo dia em que saio na rua é como se eu estivesse saindo pela primeira vez. As cidades são lindas, não só Budapeste, mas todas as cidades do interior que já conheci. O país tem diversas construções grandiosas, de deixar a gente de queixo caído toda vez que vê.
Segurança para Mulheres:
A capital, Budapeste, é uma cidade limpa, bem cuidada e segura. Posso voltar de uma festa sozinha de madrugada e me sinto mil vezes mais segura do que me sentiria no Brasil (eu sequer voltaria sozinha lá). Não digo que tudo são flores, já conheci pessoas que tiveram celulares furtados ou outras coisas, mas nunca fiquei sabendo de alguém que sofreu algum tipo de agressão ou assalto. Uma coisa que vejo muito por aqui são moradores de rua, alguns usuários de drogas e muitos bêbados. Como vim de cidade pequena, isso foi algo que me chamou muita atenção no início.
Muitas meninas me perguntam “mas Duda, esses homens bêbados na rua nunca mexeram contigo?”, e sobre isso: já teve uma ou outra vez que a pessoa gritou alguma coisa de longe (em húngaro, então não entendi nada mesmo), mas nunca, nunquinha, alguém chegou perto de encostar em mim, nem nas minhas amigas. Por isso que digo que me sinto muito mais segura
aqui do que no Brasil.
Transporte Público:
O transporte público aqui é uma das coisas que eu mais gosto. Eu pago um valor de 3450 HUF por mês (cerca de 60 reais) e posso utilizar os ônibus, o tram e os metrôs quantas vezes eu quiser. A cidade inteirinha é conectada pelo transporte, que funciona pontualmente e 24 horas por dia (na madrugada, com menos frequência).
Custo de Vida:
Já falei sobre os custos na live que fiz com a Mi (que inclusive super recomendo, tiramos várias dúvidas sobre a bolsa de estudos lá!), mas vou dar uma visão geral por aqui.
Um real brasileiro equivale a (em torno de) 55 florins húngaros. Os valores que vou passar são os gastos que tenho por mês, que podem variar muito dependendo do seu padrão de vida.
– ALUGUEL: eu divido quarto com outra brasileira e pago 55.000 HUF por mês (em torno de mil reais). Nesse valor já estão incluídos os custos com aquecimento, água, luz e internet. A partir do próximo mês, vou me mudar para outro apartamento onde terei um quarto só pra mim e o valor será de 64.000 HUF, com tudo incluso também. Esse valor para um quarto individual, grande, com cama de casal, é relativamente barato, mas ele só está com o valor mais baixo por causa da pandemia.
– TRANSPORTE: como já citei, pago 3450 HUF por mês (cerca de 60 reais) para andar com os transportes públicos da cidade quantas vezes eu quiser, 24 horas por dia.
– MERCADO: eu gasto cerca de 30.000 HUF por mês (em torno de 550 reais). Eu como super bem, não deixo de comprar as coisas que quero e consigo manter uma alimentação saudável com esse valor. A única coisa que acabei cortando da minha rotina foi a carne vermelha, que aqui custa muito caro.
Pessoas Húngaras:
Muitas pessoas aqui costumam dizer que húngaros são frios e grossos. Já tive experiências diversas, mas realmente senti que as pessoas aqui são muito mais fechadas do que no Brasil. Já recebi muita cara feia no mercado e em lojas por não falar húngaro, mas nada que tenha me deixado super incomodada. Um professor húngaro que tenho me falou que aqui no país os clientes não são tratados como prioridade, que muitas vezes os atendentes agem como se estivessem fazendo um favor ao cliente, mas que isso vem mudando com o passar dos anos. E mesmo que você não se dê bem com o jeitinho húngaro de ser, tem gente de todo lugar do mundo por aqui. É muito difícil eu sair na rua e não ouvir gente falando em inglês (acontece até de ouvir pessoas falando em espanhol, alemão, português, francês etc.). E tudo isso em tempos de pandemia, dizem que antes da pandemia a cidade era lotada de turistas.
Sobre a Universidade:
Desde que cheguei aqui, por causa da pandemia, as minhas aulas estão acontecendo online. Por isso, ainda não tive muitas oportunidades de visitar a universidade e conhecer os prédios. Pelo que pude ver até agora e pelo que conversei com veteranos, a estrutura da universidade é ótima.
Sobre os professores, tive experiências boas e ruins, assim como tive no
Brasil. Tive professores com uma ótima didática, enquanto outros não explicavam nada, tínhamos que estudar o conteúdo inteiro por conta própria. Uma coisa que foi uma grande novidade pra mim foram as provas orais. Nunca havia feito uma prova oral na vida, muito menos em inglês, então foi o que mais me tirou a calma no primeiro semestre, mas no final
deu tudo certo!
Eu tenho um perfil no Instagram onde mostro um pouco da minha vida por aqui, que é o @vidaembudapeste. Estou sempre ajudando pessoas que querem aplicar pra bolsa ou que tem interesse de vir morar na Hungria, então se tiverem qualquer dúvida podem me chamar por lá! Espero ter conseguido passar uma visão geral de como são as coisas por aqui.
Budapeste é uma cidade muito turística, com diversos intercambistas, lotada de bares, festas, restaurantes e cafés. Eu poderia morar aqui por 50 anos e não iria conseguir conhecer todos esses lugares. A cidade é apaixonante e superou todas as minhas expectativas!